quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Unidos Pelas Causas Corretas?


2010. Ano de eleições. Faltam poucos dias para a votação e o número de emails com supostas revelações surpreendentes e resultados de pesquisas eleitorais se intensificam. Tive a oportunidade de assistir a um vídeo que tem circulado na Internet de um pastor de Curitiba que achei bastante interessante. No vídeo, ele falava sobre a necessidade dos cristãos brasileiros refletirem sobre os candidatos escolhidos nestas eleições, pois existem emendas constitucionais tramitando no congresso nacional que serão votadas pelos próximos senadores e deputados que podem afetar diretamente pontos cruciais, fortemente defendidos por evangélicos e católicos. Basicamente, o pastor cita que as lideranças cristãs estão se unindo para que a família brasileira seja preservada, evitando que o aborto e o casamento homossexual sejam legalizados. A Lei da Mordaça (PEC 122), que proibiria cristãos de pregarem contra o homossexualismo é colocada como uma ameaça real aos cristãos brasileiros.

Realmente a igreja precisa se mobilizar e ser relevante em sua geração. Precisamos fazer diferença no tempo que se chama hoje. Mas há pontos que me preocupam e não podemos deixar de considerá-los. Precisamos ter bastante cuidado para que este movimento não se resuma em uma luta entre cristãos versus homossexuais ou entre cristão versus liberais. Permitir esta simplificação é uma redução do propósito da igreja que é pregar o nome de Jesus como Senhor e Salvador através de uma vida coerente com o exemplo de Cristo. O homossexualismo é pecado. O aborto é pecado. Os relacionamentos irresponsáveis também são pecados. A família precisa ser preservada. Mas precisamos lembrar que a corrupção também é pecado. A mentira e avareza são condenadas pala Palavra de Deus. Estes são pecados recorrentes em nosso país que indicam que a iniqüidade já é uma realidade no Brasil, mas estranhamente convivemos com o silêncio da igreja evangélica brasileira. Nenhuma mobilização. Nenhuma relevância. Ficamos indignados contra os pecados sexuais, mas nos omitimos contra a desigualdade social e falta de transparência de nossos políticos.

Deveríamos ter nos mobilizado para a aprovação do Ficha Limpa. Como cristãos deveríamos estar cobrando explicações de nossos representantes democraticamente eleitos sobre sua atuação. O que estão fazendo contra a corrupção? A igreja deveria estar liderando este processo. Infelizmente, é comum vermos representantes da chamada bancada evangélica envolvidos em esquemas obscuros ou apenas defendendo reivindicações de suas denominações. Dentro de nossos municípios, deveríamos estar fiscalizando a utilização dos recursos por prefeitos e vereadores. Precisaríamos estar lutando para que a justiça fosse uma realidade em nosso bairro. Imagine os resultados se cada congregação dedicasse tempo para ensinar em seu bairro o que é ser cidadão. Se cada igreja estivesse investindo tempo no ensino da responsabilidade que nós como cristãos temos em nosso país. Se estivéssemos buscando viver a integralidade do evangelho de Cristo. Investindo em atitudes, economizaríamos palavras na pregação do Evangelho.

Um perigoso homicida elimina dez, cem ou até mil vidas, mas o que falar dos corruptos que enriquecendo à custa de milhões de famílias que continuam sem saneamento e morrem por não ter educação e saúde? Não creio ser exagero afirmar que hediondos são os crimes cometidos pelos corruptos que estão negando a toda uma geração a oportunidade de construir um país mais justo e melhor.

Fico pensando se realmente estas leis fossem aprovadas. E se fosse crime em nosso país falar abertamente contra práticas homossexuais? Iríamos pagar o preço, sofrer perseguição pelo nome do Senhor ou iríamos nos calar? Será que os templos iriam continuar lotados? A indignação atual não seria apenas uma reação à ameaça contra nosso tranqüilo modo de vida? Pensar sobre isso nos faz entender a dimensão da benção que é viver em um país onde temos liberdade de pregarmos e vivermos nossa fé, mas como está escrito: “a quem muito é dado, muito será cobrado”. A liberdade que temos hoje aumenta nossa responsabilidade. Vamos esperar que venha uma grande perseguição para sairmos de nossa zona de conforto? Precisamos refletir sobre nossa postura como cristãos, pois corremos o risco de nos tornar fundamentalistas que pregam o amor e vivem o ódio.

por Frank Assis

Um comentário:

  1. Concordo com a idéia exposta e sou contra essa arbitrariedade. Estão tentando nos fazer engolir muita coisa à seco, como a questão do julgamento dos 'ficha suja'. É inadmissível que somente haja julgamento após as eleições.

    Quanto à mobilização, sou descrente na união das pessoas por conta da omissão da maioria delas. Muitos são favorecidos sem mover uma palha sequer enquanto poucos dão suas faces à tapa em prol de uma idéia ou em busca de um direito. Creio na conscientização, apenas.

    O grande problema da política não está somente nos corruptos, está em quem deveria condená-los.

    Mais uma vez, gostaria de expor minha admiração ao senhor quanto aos valores - e suas perdas.

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